Dessa vez, o #ConhecendoBR chega um pouco menos atemporal, mas é que o momento que me leva a escrever é significativo demais para ficar livre de qualquer marcação de tempo
Eu não sei o que vem à sua mente quando você pensa em música brasileira, mas se o foco dos meus devaneios são aquelas cantadas no bom e velho português, eu penso logo em poesia.
Se você acompanha o Yellow há mais tempo, já deve ter lido por aí sobre a minha dificuldade com música nacional. Senhoras, senhores, isso parece estar mudando! Não é tudo que me agrada e nem que me agrada o tempo todo, mas eu tenho me deliciado cada vez mais.
Criei até uma playlist que chamei de “Brasileiríssimas” com as músicas nacionais que eu acho f*das, fugindo do rock e seguindo por um caminho mais clássico. O que mais me encanta nas músicas é a poesia e é também o que traz o Coração de Andarilho pra cá. Bora conhecer?
A poesia como forma de expressão dos desejos
O idealizador do Coração de Andarilho se chama Lucas Ucá, músico e compositor que nasceu em Goiânia, virou gente grande em Belo Horizonte e que carrega o sol no seu coração aonde quer que vá.
E ele vai mesmo… Vai porque acredita que estamos todos com os pés na estrada da vida. Assim, compartilha devaneios em forma de canções sobre o que vivencia em seu próprio trajeto.
Já faz um tempo que, nessas andanças que podem ser tanto reais quanto virtuais, os caminhos do Ucá, de seu Andarilho e do Yellow se encontraram ― não é de hoje que devo um post por aqui, mas esclareço que a dívida só existiu porque eu quis escrever! Nada mudou na política de só trazer para o blog o que realmente me agrada.
Retornando o rumo após um leve desvio, o que eu quero dizer é que já faz um tempo que eu exercito olhar e ouvidos ao acompanhar o Coração de Andarilho nas redes e onde o seu som me leva. Com isso, presumi que a poesia funciona para o artista como forma de expressão dos desejos.
Há um desejo expresso na bio registrada, seja este um desejo apenas do artista que dá voz ao projeto ou também do homem que carrega o Coração de Andarilho por aí.
Fato é que os versos não me deixam mentir e vão de encontro ao que eu, por experiência própria, também posso dizer: a poesia flui quando surge para traduzir em palavras o que a gente quer.
O desejo de ser “Humano Tchau”
É provável que Humano Tchau seja a música de maior sucesso até agora; ao menos, é a mais ouvida no Spotify e a que ganhou clipe divulgado pelo Palco MP3.
Desafio você a ouvir Humano Tchau e não sentir vontade de sair para se sentar na areia, à beira do mar ou algo do tipo. Me pergunto se o desejo de despertar na gente a vontade de sair por aí foi intencional por parte do Andarilho…!
Mesmo que não tenha sido, funcionou bem e faz jus ao convite da bio que as palavras “vem pra estrada comigo” expressam. Funciona bem, inclusive, por que se este costuma ser o primeiro contato de muitos com o Coração de Andarilho, o que vem depois é ouvido já enquanto se curte a viagem.
Mas antes de falar em sair por aí, quero falar do desejo de ser Humano Tchau. Se, a essa altura, você já ouviu a música, certamente pegou o trocadilho. Se ainda não o fez, ao menos repita para si mesmo em voz alta “eu quero ser Humano Tchau” para entender.
No fim das contas, porém, não é só um trocadilho.
A sonoridade e as batidas da música carregam em si algo da atmosfera do Manu Chao; um artista que vive viajando por aí e fazendo trocas culturais nos locais que visita. Não é a toa que, apesar de francês, Manu Chao se encaixa tão bem à América Latina.
“Ser meio andarilho e não pertencer a um lugar só”, como Ucá pontua, é algo que vem do Chao como um mestre a inspirar o criador do Coração de Andarilho a fazer músicas que olhem para a sociedade com olhar de quem busca uma mudança.
Verdade seja dita, porém, Ucá tem tudo isso em sua essência também, independentemente da influência que o faz “querer ser o Manu Chao” ou querer “ser humano, tchau”; humano e nada mais.
Como resultado, Humano Tchau tem irreverência e crítica lado a lado. Típico do humor inteligente e sutil que tanto entretém quanto instiga a reflexão ao fazer quem ouve internalizar pouco a pouco a mensagem.
O som do Coração de Andarilho
Só não vale pensar que o Coração de Andarilho não tem nada de original. Aprendi que Humano Tchau é mais do que uma referência, é reverência, mas os Úcá artistas que fazem parte do projeto sabem ser donos de sua própria arte.
Seu som é feito de misturas sonoras que resulta em um estilo próprio com um pé sempre passando pela essência do indie pop.
A poesia cantada e a vontade de sair por aí
Como mencionei antes, já faz um tempo que o Coração de Andarilho tem espaço reservado aqui no Yellow, mas demorei a conseguir escrever… Algo que tem a ver a com deixar a coisa fluir sem tentar que aconteça antes da hora.
Poesia e poema são, para mim, as expressões máximas de mim mesma que precisam de inspiração para acontecer. Talvez a disciplina um dia ajude, ainda não descobri porque não tentei, mas sinto que precisa mesmo rolar um “clique”.
Depois de longos meses desde o primeiro contato, por um acaso, o tal clique veio não para me transformar em poetisa, mas para finalmente me permitir escrever sobre a vontade de sair por aí que a música do Coração de Andarilho me desperta.
Música tem que provocar uma reação. Se não provoca é porque não é boa o bastante ou porque quem a ouve está distraído demais para perceber qualquer coisa. Música boa provoca sensações, desejos, vontades, impulsos, reflexões… e por aí vai.
O Coração de Andarilho me faz mesmo querer entrar em movimento e por mais que isso pareça gerar algum tipo de ansiedade (escrevo em plena pandemia que me tranca em casa), o som é calmo o bastante para me permitir manter a paz.
Assim, se não posso literalmente ir pra estrada, consigo viajar para dentro de mim deixando ecoar na mente letras e melodias que ditam o rumo e garantem que o destino seja sempre agradável. A verdade é que, pra ir, a gente nem sempre precisa sair fisicamente do lugar.
Outra verdade é que, tão logo puder, Lucas Ucá pretende realmente sair por aí, viajando pela América do Sul e eu só posso esperar para que o desejo de “rodar o mundo, descer a serra e subir terra estrangeira” renda mais arte pra gente desfrutar.
A angústia da quietude e os próximos passos do Andarilho
E se estamos falando de um Andarilho no ano de 2020 que nos foi dado, é difícil fugir do cenário de angústia por tudo o que a pandemia provoca.
Não há quem não tenha sentido os impactos da restrição de mobilidade, mas me foi imperativo querer saber como o Coração de um Andarilho tem encarado a realidade de não poder caminhar livre por aí.
Ucá me disse que a angústia e as preocupações existem diante do cenário provocado pela pandemia, mas como quem quer recuperar sua liberdade (e segurança), mentaliza um mundo melhor.
Tudo isso o estimula porque “para quem vive a arte-vida, tudo serve para composição” e criar está entre as alternativas que fazem um artista conseguir caminhar, um dia de cada vez.
Rearranjos, músicas novas e composições o bastante para lançar disco por uma vida inteira… É isso o que o Coração de Andarilho já reserva para nós, além de um clipe para Rio Selvagem que, na minha opinião, é a música mais bonita do álbum que leva o nome do projeto, lançado em 2018.
O álbum, produzido por Lucas Ucá, Marcelinho Guerra e Gustavo Lenza, tem 11 músicas que fluem bem o bastante para deixar a gente querendo mais. E se há algo que eu posso celebrar é que teremos mais!
Para “não ficar parado no tempo”, Ucá e os músicos do Coração de Andarilho têm passado algum tempo no estúdio, gravando. Um de cada vez, porém, porque estão respeitando ao máximo a regra de evitar contatos e aglomerações.
Não vou contar pra vocês que ganhei spoiler de um trechinho de música nova, vou apenas dizer que espero não demorar tanto para escrever sobre o Coração de Andarilho de novo quando a hora chegar!
Coração de Andarilho: instagram | spotify | youtube
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Que tal você tirar um tempinho para ouvir e me contar o que você achou do Coração de Andarilho? Vou adorar saber!
