Vou chutar que a primeira coisa que você pensou ao ler o questionamento no título do post foi: uma música cover serve para prestar uma homenagem e permitir que os fãs tenham um contato mais próximo com sua banda, ou algo do tipo.
E isso certamente faz muito sentido, sobretudo pensando em cenários como o da minha Hellorizonte que não recebe personalidades da música mainstream com a frequência que gostaríamos. Ou até no fato de que muitas bandas e artistas dos quais gostamos já nem estão entre nós.
Assim, um cover cumpre o seu papel de homenagear alguém e permitir que outros fãs tenham um contato “ao vivo” com aquele som, ainda que a experiência jamais se iguale à original. E por aqui há diversas “bandas-tributo” que cumprem bem esse papel.
Porém, há mais um motivo que eu queria destacar e é o que trouxe a The Deal até aqui: a possibilidade de criar novas versões de músicas já conhecidas para apresentar o estilo de uma banda independente que busca espaço na cena musical.
Afinal, quem é a The Deal?
A The Deal surgiu em 2013, na capital mineira, como resultado de uma parceria entre o vocalista e guitarrista Gustavo Lacerda e o baterista Glauco Leite. Eventualmente, o baixista Thiago Cansci se juntou à banda para deixá-la mais completa e o objetivo de todos, desde o início, era tocar blues.
Melhor dizendo, seu objetivo era traduzir seus sentimentos por meio do blues porque, como escrevi na Yellow Sounds #2 – BB King: Live at the Regal, o blues é algo que se vive e se sente. E, de alguma forma, isso se transforma em música e os caras da The Deal sabem bem disso.
E já que mencionei B.B. King, vale dizer que o cara está na lista das importantes influências da banda, junto com Stevie Ray Vaughan e Joe Bonamassa, nomes conhecidos por mesclar estilos e apresentar um blues rock de qualidade.
A The Deal e o blues
Quando a The Deal começou, seus integrantes focavam no blues para participar de um movimento que crescia em Belo Horizonte. Por isso, apostavam na música cover que é mesmo uma porta de entrada para uma banda no cenário musical.
Sair dos covers para compor e apresentar seu som é um caminho natural para muitas bandas e algo essencial para aquelas que não querem dedicar sua existência a ser uma banda-tributo. E não tardou para que a The Deal começasse a ter música própria, apoiada no talento e na experiência prévia de Gustavo que, ao longo dos anos, se habituou a compor para outras bandas que teve.
Gradativamente, o som autoral foi ganhando espaço na rotina da banda, com todos participando do processo criativo. O baterista Glauco, assim como Gustavo, também é mente por trás das letras da The Deal, enquanto o baixista Thiago contribui mais para os arranjos e fazer o som fluir. Na verdade, no fim das contas lá no estúdio, as ideias e talentos se misturam para criar o resultado final.
Seguindo essa rotina, a ideia de deixar o cover um pouco de lado para focar no próprio som foi crescendo naturalmente, à medida que a The Deal criava mais, fazendo com que os caras passassem a gostar mais de tocar as suas músicas.
A importância dos covers enquanto versões
Quando uma banda chega ao estágio em que a The Deal chegou, surge uma dúvida comum: qual caminho seguir? Todo artista quer apresentar seu próprio som ao público. Ao mesmo tempo, sabe que a música cover é essencial para atrair a atenção desse público e conquistar seu espaço e tentar crescer a partir dai.
E é aí que a junção de ambas as coisas nos levam à importância do cover enquanto versão. A versão acontece quando uma banda coloca a sua identidade em uma música já conhecida, de outro artista. Algo que você certamente já conhece, mas pode conferir ao assistir ao vídeo abaixo, que eu achei fantástico:
No fim das contas, o cover enquanto versão é uma ótima forma de dar ao público o que ele quer — um som familiar e já apreciado —, mas aproveitando a oportunidade para mostrar o próprio estilo. Quando tudo dá certo, o resultado é que uma parcela dessas pessoas pode acabar se interessando em conhecer mais a banda e seu som autoral.
“O cover é fundamental para o surgimento de novas bandas. O cover, pra gente, foi nossa preparação para nossas músicas autorais e agora a gente precisa deles para atrair o público”, explicou Gustavo Lacerda ao Yellow.
E o que vem depois dos covers, das músicas autorais e das versões?
O sonho de toda banda é não precisar contar para sempre com as versões para atrair a atenção do público. A expectativa — e os caras da The Deal trabalham muito para isso — é fazer com que a música de seus ídolos e artistas inspiração seja cada vez menos necessária como chamariz.
Em meio à dúvida entre lançar um disco só de autorais, lançar um só de versões ou seguir mesclando as duas coisas, há uma certeza: o crescimento de uma banda e o reconhecimento de seu som e identidade próprios não precisa “eliminar” o cover de suas apresentações.
Basta ter em mente que até os gigantes do rock, em suas apresentações ao vivo ou até em álbuns, eventualmente escolhem uma música de outro artista e compartilham suas próprias versões. E quando a The Deal vai chegar a esse estágio em sua trajetória musical? Só acompanhando para saber!
The Deal: site | facebook | instagram | spotify
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Eu conheço a The Deal pelo Gustavo que, inclusive, agradeço pela conversa que tornou este post possível. Somos amigos e a ideia de trazer a banda pro Yellow foi minha. Eu não queria simplesmente apresentar os caras, mas sempre que faço isso por algum artista, é porque realmente gosto do que ouço — faz parte da política do blog!
Da primeira vez que ouvi os caras, eu gostei. Mas esse gosto também tinha sua razão na amizade. O tempo passou e eu constatar a evolução vocal do Gustavo e o amadurecimento da banda que se refletiu na minha surpresa quando ouvi Sick Man Blues (autoral que está no Spotify). Ouçam e volte aqui para me contar o que acharam, combinado? Tô esperando 🙂
5 respostas
Só profissionais de qualidade, Rogeirinho! SHOW!
HAHA, melhor comentário! Falo com tranquilidade 🙂
acho que covers são essenciais na carreira de qualquer artista. Mostra admiração por outros artistas e mostra que outras músicas podem contar algo pelo que estão passando. Escrever e passar algo por sí próprio é difícil.
Siiim! Acho que covers são oportunidades de aprendizado e de posicionamento na cena musical 🙂