Por que diabos tentei fazer alguém gostar de Nick Cave?

“Este título não vai me trazer nenhum clique”. É, foi nisso que eu pensei quando resolvi tentar tirar este post do rascunho mais uma vez, algo que passou por outubro de 2017, novembro de 2018 até chegar a setembro de 2019…

Um bom tempo atrás, ainda em 2016, escrevi sobre o álbum Murder Ballads (1996) para a minha finada coluna no PontoJão, a Yellow Sounds. Desde então, Nick Cave e suas “sementes ruins” grudaram em minha mente e, de tempos em tempos, eu fico tentando encontrar formas de falar sobre o cara aqui no blog na esperança de fazer mais gente gostar dele, da música dele.

A verdade é que Nick Cave, apesar de todo o seu talento, é um dos artistas que me instiga mais pela pessoa que é do que pela arte que apresenta. Lembrei disso enquanto lia sobre um single do Iggy Pop no blog do Guilherme Vanolli.

É que Iggy Pop também integra a lista de artistas que me chamam mais a atenção pela figura artística do que pela arte em si. Quem sabe eu fale sobre isso em outro post…

Nick Cave e seu enigmático poder de encantar as pessoas

Sinceramente, eu não sei de onde veio meu encantamento por Cave e eu o ouço bem pouco, para falar a verdade. E é por isso que eu já nem sei porque diabos quis fazer alguém gostar do cara!

Suspeito que tenha a ver com o que eu senti quando ouvi Murder Ballads e depois obras como Skeleton Tree (um de meus álbuns favoritos de 2016) e o incrível Distant Sky (Live in Copenhagen) — e falei sobre o poder das sensações, nossa forma mais poderosa de memória, no post O curioso caso da fã sem memóriaE pode ainda ter leve influência do fato de Nick ter namorado PJ Harvey, outra queridinha que já marcou presença no Yellow.

A questão é que estou começando a crer que Nick Cave é uma experiência, apesar de ser indubitavelmente estranho me referir assim a uma pessoa. Mas é que, talvez por seu semblante enigmático, Nick Cave parece ser a personificação de sua própria arte. A cara que dá vida ao seu som que sabe ser intenso sem precisar ser estrondoso.

Logo agora que você estava quase entendendo o que eu estou falando, a canção está acabando e o Creuzebek está baixando ali o volume…”. Se você não conseguiu entender bem o que eu estou tentando dizer é por isso: Nick Cave me é difícil de descrever e acho que isso faz com que seja difícil convencer alguém a ouvi-lo.

Porém, se a essa altura, você se sentir minimamente disposto a apertar o play em alguma música do cara, faça agora, com Henry Lee e aproveite. Talvez, a participação da maravilhosa PJ Harvey, direto da época em que eram namorados, anime mais você.

(A saber, PJ Harvey é mais uma na minha lista de artistas que me atraíram primeiro pela figura que criaram de si do que pela arte propriamente — Curiosamente, horas antes de retomar a escrita desse post, me deparei com uma matéria da CLASH sobre a justificativa que Cave apresentou para o fim de seu namoro com Polly Jean).

Nick Cave como a experiência-Nick-Cave

É preciso considerar ainda que, mesmo que seja enigmática, a experiência-Nick-Cave não é lá muito convidativa. Ao menos é isso o que eu acredito por suspeitar que quase ninguém à minha volta ouve Nick Cave — se vocês estiverem aí, façam contato!

A questão é que ouvir o som de Cave me faz entrar em um estado de espírito particular. É como se, para apreciar sua arte, eu precisasse me abrir tanto que acabasse encontrando certo tipo de paz… ou torpor. Talvez seja torpor. Mas é importante dizer: diferente do que possa parecer, esse ato de me abrir para conseguir absorver Nick Cave acaba sendo relativamente fácil de se fazer.

Foto de Nick Cave em fundo preto
Sabe de quem é essa foto? Não consegui identificar a autoria

Então, no fim das contas, eu acho que é estas são as repostas para a pergunta “Por que diabos tentei fazer alguém gostar de Nick Cave?” :

Nick Cave é um artista muito singular. Em partes, seu olhar penetrante emoldurado pelo par de sobrancelhas expressivas o bastante para dar ainda mais dramaticidade à sua aparência combina perfeitamente com o que esperar de seu som. 

Apesar disso, Cave pode ser bem mais suave e festivo como em Deanna, de Tender Prey. Pode também ser romântico, como em (Are You) the One I’ve Been Waiting For, do álbum The Boatman’s Call que foi inteiramente escrito depois e em razão do fim do relacionamento com PJ Harvey.

Em essência, acho que Nick Cave é um artista com várias facetas — todas escondidas por trás da mesma face, algo muito diferente do que fez David Bowie, por exemplo. Mas isso é conversa para outra hora! A questão é que essas facetas de Cave só são reveladas para quem não tem medo de olhá-lo nos olhos e, caso você seja uma dessas pessoas, arrisco dizer que vai acabar encontrando algo com o que se identificar no som do cara.

Para finalizar, sendo muito otimista com o resultado desse post, vou deixar um “guia para conhecer Nick Cave” ou The Guide to Getting into Nick Caveda Vice.

Agora, me diz aí: você já conhecia Nick Cave? Não conhecia e quer conhecer ou continua sem ter ideia do porquê eu tentaria fazer alguém gostar de Nick Cave? Manda a real 🙂

 

0 resposta

  1. Ótimo artigo, Lari. Conheço pouco dele, mas a voz é inconfundível e gostei muito da trilha sonora que ele fez para um filme de poucos anos atrás com o Chris Pine. Deu um clima bem soturno, como sempre.

    Aproveitando o assunto, fiz recentemente um artigo no meu novo blog abordando a relevância e as inovações do Rock In Rio ao longo dos anos. Se puder visite e dê sua opinião: https://senhorconteudo.home.blog/2019/09/04/rock-in-rio-uma-marca-baseada-em-sonhos-e-inovacao/

    1. Obrigada pelo comentário, Daniel! Acho que eu não sei de qual filme você está falando porque acompanho pouco esse universo. De qualquer forma, fiquei curiosa para descobrir mais sobre as participações do Nick em trilhas sonoras 🙂

      Em breve passo para ver seu post!

  2. Independentemente de por qual trilha musical eu caminhasse, o Nick Cave parece que sempre esteve no fundo: o cadáver mais elegante que eu já vi, cuja música soava muito interessante, e um dia eu ouviria com atenção – um dia, quem sabe. Aí eu vi no instagram um vídeo postado pela escritora Mariana Enríquez (indico demais o As Coisas que Perdemos no Fogo, dela), do show dele ano passado. Eu fiquei maravilhado com a performance – The Weeping Song, era a música. Ele é um desses artistas únicos. Talvez no começo não fosse tanto, mas ele amadureceu muito bem. Dig!!! Lazarus Dig!!!, talvez o mais acessível dele, foi o primeiro que eu ouvi do começo ao fim e adorei, mas ainda preciso ouvir muitos outros discos dele.

    É difícil falar sobre ele de forma coerente, eu nem nunca tentei. É um desses artistas que se não tivesse nascido, por conta de algum acidente cósmico, ninguém teria entrado no lugar. (Eu não acho que isso vale pra todo mundo.) Um desses que é até difícil imitar. Por isso é importante espalhar a palavra de gente assim, como também da PJ Harvey, do Tom Waits, Zappa, Bowie, Michael Gira (Swans), Jarboe, David Tibet (Current 93), Lydia Lunch, Patti Smith et cetera. Porque tem muita coisa reciclada por aí e, mesmo que alguns sejam bons, todo mundo já conhece. Enquanto, gente assim, diferente, esquisita, precisa ficar mais conhecida.

    1. Caramba! Eu entendo tão bem o que você disse, apesar de experiências diferentes.

      Seu comentário até me fez pensar e rever o fato de que o Iggy Pop talvez não deve estar na minha lista de artistas que me conquistaram primeiro pela personalidade e depois pela arte. Isso de fato aconteceu, mas é que sua reflexão sobre o acidente cósmico me fez colocar Nick, PJ e Patti em um patamar acima. Bowie eu nem preciso dizer, sempre esteve acima do acima, rs.

      Obrigada, Rapha! <3

      1. Eu gosto demais do Iggy, mas também não acho que ele se encaixe. Num cenário onde MC5, Blue Cheer, Ten Years After, Black Sabbath, já existiam, The Stooges foi uma conclusão lógica – alguém faria esse som, com ou sem Iggy. Mas talvez aí o assunto fique um pouco complexo, isso é só uma opinião minha.

        Só que o Iggy se encaixa bem no que você falou de personalidade mais interessante que a arte. Ele é um ser humano único, que fez música comum (boa, mas sem novidades). Isso pode ser polêmico, mas eu vejo Led Zeppelin da mesma forma. Uma banda comum, típica do período,com personalidades fascinantes. O mesmo vale pros Beatles, Rolling Stones, Nirvana, Elvis… De novo, minha opinião. E eu gosto desses artistas, só não vejo nada de inovador ou fora do comum nas músicas deles. Nada que não fosse acontecer com ou sem eles.

        1. Eu não conheço o suficiente da cena em que o The Stooges surgiu, mas a gente sabe que sempre teve e sempre vai ter gente fazendo um som que outros poderiam fazer e até fazem.

          Sobre Beatles e Stones, tudo que posso dizer é que os Stones são melhores HAHA. E sobre Nirvana, eu sou mega suspeita e sempre me apego às opiniões de quem achou que eles redefiniram algo importante na música. Inclusive, tem um cara que eu não vou lembrar o nome agora, que foi um desses a escrever um baita review favorável ao Nirvana e depois voltou atrás. Me apego até à primeira opinião dele, rs

          Enfim, devo fazer o post sobre essas personalidades e pode ser legal separar os que estão do lado do Nick dos que estão do lado do Iggy. E só pra constar, caso tenha rolado uma curiosidade, Kurt/Nirvana me atraíram primeiro pelo som mesmo e depois pela personalidade.

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