Legião e outros 'órfãos'…

Há 20 anos, Renato Russo deixava esse mundo e uma legião de órfãos. Vários, se sentem assim até hoje. Não necessariamente “apenas” pela ausência de Renato e da sua Legião Urbana – tem outra fazendo, ao que parece, belas homenagens por ai. E sim pela falta de alguém que saiba expressar tão bem o que essa geração estaria sentindo. Será só imaginação?

Essa foi uma possibilidade apontada por um dos convidados num bate-papo que ouvi na rádio CBN hoje mais cedo, envolvendo pessoas que cresceram no universo do crescimento do movimento roqueiro de Brasília/Brasil. Pessoas que, certamente, foram mais fãs e ainda gostam mais de Legião Renato do que eu.

Renato teria 56 anos hoje. Entre a geração que cresceu com ele e a juventude de hoje em dia, existe a minha. Gente que pegou um resquício de Legião nas rádios e aprendeu algumas músicas, provavelmente, sob influência de parentes um pouco mais velhos. No auge da minha adolescência, saber cantar Faroeste Caboclo era incrível.

É difícil dizer se existe hoje algum artista que fale “por toda uma geração”. Acredito que não e, ainda, que isso seja algo cada vez mais difícil de acontecer. Eu não participei da efervescência do cenário de Renato e tantos outros. Acho – e esse achar basicamente acusa o fato – que não cresci com nenhuma banda ou artista que fosse a voz da minha geração, ainda que outras (como no Norvana*) encontrem novas almas perdidas ano após ano.

norvana

Isso me faz pensar que, não fossem meus primos, talvez eu tivesse ignorado Renato Russo. E não acho que isso teria sido correto. Não sei até quando, mas no momento, me permito dizer que qualquer brasileiro que tenha qualquer interesse pelo rock nacional ~precisa~ ter algum contato com Legião Urbana e, se possível, ir além de Eduardo e Mônica.

Há um tempo, escrevi este post sobre Somos Tão JovensFaroeste Caboclo. Dois filmes direcionados aos fãs e a quem mais possa interessar. Infelizmente, não estão na Netflix, mas vocês conseguem achar… #ficadica

Até antes de assistir a Somos Tão Jovens (meu filme preferido dentre esses), eu ouvia Legião exaustivamente. Inclusive, foi maravilhoso cantar durante o filme, junto com todos da sala de cinema. De lá pra cá, o que mudou da minha relação com a banda e com Renato, eu deixo para outro post (ou para os comentários/inbox, se desejarem). O que permanece é que Vento no Litoral é uma das minhas músicas favoritas.

O fato é que eu ia deixar essa data passar e só decidi resgatar a memória de Renato Russo aqui depois da conversa de hoje cedo na rádio. Às vezes, penso que não foi só ele (obviamente) a deixar uma legião de órfãos. Os que são órfãos de Legião são, também, os que sentem falta daquele tempo ou ainda de outros tempos. Somos nós” que não nos acostumamos ou não chegamos prontos para essa pluralidade de vozes – na música e fora dela – em que nenhuma parece ter poder para se destacar para o mundo todo. Não que seja uma realidade ruim. É apenas diferente e, em dias como hoje, o diferente pode provocar uma nostalgia danada…

Uma nostalgia que me faz querer dizer: crianças, ouçam Renato Russo e sua Legião Urbana. Ao menos hoje. E, visto que no post eu só linkei músicas conhecidas, deixo aqui outro da Billboard com 15 músicas da Legião Urbana que talvez você não conheça, mas deveriaSejam felizes e lembrem-se: “as drogas fazem você virar os seus pais”.

14 respostas

  1. Questão muito pertinente essa. Não saberia dizer por que não tem mais uma voz que fale por toda uma geração, mas acho que isso passa muito pela revolução que foi – e está sendo – a internet, a começar pelo Napster.
    Graças a ele – e aos serviços que vieram depois, claro -, as pessoas puderam descobrir as músicas de forma mais autônoma – não que todo mundo queira, ou sequer possa, usufruir desse tipo de liberdade -, e o resultado é que os interesses ficaram todos bem mais fragmentados.
    Usando um exemplo próprio, posso dizer que muitos – acho até que a maioria – dos artistas que eu mais admiro eu provavelmente nem sequer teria tido conhecimento antes da internet. Se eu vivesse nos anos 80, provavelmente teria me restringindo aos meio de comunicação de massa (principalmente rádio e TV).

    1. Eu acho mesmo que tem muito dessa fragmentação. Hoje, um artista é, ao mesmo tempo, aclamado por uma multidão e totalmente desconhecido por outras. Tem gente que diz que a internet diminuiu distâncias e pode ser que seja real. Mas, na prática (?), vejo mais que ela aumentou o tamanho do mundo. A questão desse post é uma consequência disso.

        1. Além de tudo, dessa fragmentação que a gente já apontou, acho que o mercado pode ter certa influencia. Acho que você deve ter uma visão melhor sobre isso do que eu… Mas sinto – e pode ser um entendimento errado meu – que há mais artistas-produto hoje do que antes. Tanto dentre a galera sem talento quanto dentre a com talento, que é sacrificada/se sacrifica pra atender à demandas diferentes que temos atualmente. Isso dificulta tudo.

          1. Outra questão super interessante. Talvez exista mesmo mais artistas “pré-fabricados”. Ao mesmo tempo (como a gente já conversou numa outra ocasião), os anos passam e a gente esquece que muitos artistas das antigas eram totalmente modelados pro mercado. Os Beatles do início, por exemplo, não eram tão diferentes assim do que é hoje o One Direction.

  2. Como você, se não fossem meus primos eu talvez nunca teria parado para escutar Legião e seguido a busca por alguma banda brasileira que fizesse um som de qualidade e letras nas quais eu pudesse me identificar. Acho que o que faz o problema de terem tantos “orfãos” é o fato de que agora o deboche ganha muito mais ibope do que a qualidade musical. Muitos artistas que são realmente bons, não são levados a sério… enquanto tem outros que é só tirar algumas peças de roupa e atingem o mundo inteiro.
    Gostaria que em algum momento essa sensação de falta fosse embora, mas né…
    Beijão

    1. Acho que essa sensação só vai embora se a gente aceitar que não se fazem grandes artistas como antigamente e que a gente tem mais é que ir atrás do que gosta/quer ouvir. Não que já não façamos isso, mas nem mesmo o deboche tem alcance tão grande quanto os artistas de antes tinham… Outros tempos :/

  3. Ainda bem que você não deixou a data passar e ainda bem que eu achei esse post aqui, meio que sem querer, mas ainda não tão tarde… Eu fiquei assim sem saber o que dizer com tudo o que você escreveu… Mas com um sentimento estranho por dentro… Porque já faz algum tempo que eu “esqueci” do quanto essa banda marcou minha adolescência (e consequentemente a minha vida inteira). E eu digo que esqueci porque é como se eu tivesse me conformado e deixado pra lá. E ouvir Legião me trazia um poder tão grande, no sentido de que me fazia enxergar a vida de uma forma única. E eu nunca mais encontrei nada na vida com o que eu tivesse a mesma relação que eu tive com Legião Urbana. E ter me esquecido disso me deixa triste. Porque é como se eu tivesse esquecido de uma versão de mim mesma que eu gostava muito e que eu não queria deixar morrer. Eu realmente fiquei órfã, você definiu muito bem. Mas agora eu vou voltar um pouquinho no tempo e passar algumas semanas relembrando, e revivendo muita coisa boa!
    P.S.: Eu acrescentaria algumas várias músicas nessa lista da Billboard! hahaha

    1. Acho natural a gente se sentir mal por perceber que “esqueceu” algo que já nos foi tão importante… Mas acho que esse esquecer também é normal. Coincidentemente, pouco depois de ter feito esse post, eu achei um CD meu da Legião e coloquei pra tocar. Foi muito bom! Melhor do que eu esperava, dado que também perdi a ligação que tinha. No fim das contas, acho que aquilo que nos marcou sempre encontra um jeito de se fazer relevante 🙂

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