Bela, recatada… Não, pera!

Sim, o assunto ainda é música.

“Bela, recatada e do lar” está dando o que falar. Se você chegou aqui sem saber do que estou falando (?), note que há um link para te informar sobre o assunto. Lê e volta pra cá. Se já sabe, bora continuar…

Sou da opinião de que as mulheres têm (na verdade, deveriam ter), a liberdade para ser como quiserem, inclusive “recatadas” e “do lar”. Espero, apenas, que nossa sociedade não exalte esses atributos em detrimento dos outros, em detrimento daquelas mulheres que não compõe e nem querem compor esse estereótipo.

[Vale dizer que pessoa alguma quer compor estereótipo algum, acredito. Nem quando o próprio estiolo de vida condiz com o destacado em uma publicação de revista]

Ao longo do dia, muitas pessoas – tenho mulheres e homens como exemplo nas minhas redes – postaram fotos como resposta irônica e inteligente à publicação. A linha aqui vai ser um pouco diferente. Escolhi lembrar de algumas mulheres da música que não são (foram) “recatadas” e “do lar”. E que, graças a isso, romperam barreiras, deixaram mensagens relevantes e nos trouxeram boa música.

Vamos lá…

– Patti Smith

Se você não perdeu a última postagem do Yellow, sabe que Patti quase apareceu aqui na segunda, como indicação no #álbumdasemana. Patricia Lee Smith tem 69 anos. A conheci melhor quando li seu livro “Só Garotos” (querem resenha?), em que conta sua história ao lado do fotógrafo Robert Mapplethorpe, outra figura importante da cena cultural americana.

Ganhou destaque musical quando o The Patti Smith Group lançou o álbum Horses, em 1975, em meio à cena punk  na terra do Tio Sam. Para muitos, Horses é considerado é o melhor álbum de estréia já lançado.

Junto com o grupo, Patti gravou outros dois álbuns. Um deles é Easter (1978), que traz o sucesso Because The Night – que não sai da minha cabeça!

Ela enfrentou um período de isolamento, perdas e tratamentos para manter sua saúde mental. E nunca desistiu. Retornou à ativa por volta de 1995, com vários projetos e álbuns próprios. O mais recente, Banga, é de 2012.

poetisa do punk levou o lado feminino, feminista e intelectal para o movimento e se tornou uma das mulheres mais influentes do rock.

– The Runaways

Não quis citar apenas Joan Jett. Foi dela a ideia de, também nos idos de 1975, enfrentar a sociedade e criar uma banda só de mulheres. Obviamente, ela não esteve sozinha. No primeiro ano, teve Sandy West, Kari Krome e Micki Steele como companheiras. A última saiu no ano seguinte, dando lugar à Jackie Fox. Também chegaram ao grupo Lita Ford e Cherie Currie.

As mudanças coincidiram com a chegada do sucesso e elas gravaram seu disco de estréia, também chamado The Runaways. A canção mais famosa até hoje faz parte do repertório solo de Jett:

A banda viveu conflitos internos e outras trocas antes de acabar, oficialmente, em 1979. Era difícil para a sociedade lidar com um grupo de garotas que ditavam as próprias regras, tocavam seus instrumentos e faziam a própria música. Mesmo que os outros torcessem o nariz, a mensagem foi clara e definitiva: mulheres podem fazer rock n’ roll e farão sempre, amém rs.

#Dica: Para conhecer mais sobre The Runaways: Em 2010, foi lançado o filme “The Runaways – Garotas do Rock”, baseado no livro “Neon Angel: A Memoir of a Runaway”, escrito pela vocalista Cherie Currie.

– Nina Simone

O lançamento do documentário “What Happened, Miss Simone”, indicado ao Oscar 2016, levou mais pessoas a conhecer Nina Simone e eu acompanhei isso com alegria.

O protagonismo das outras mulheres citadas nesse post – e de outras que poderiam ter aparecido aqui – é bem conhecido também. Por que, então, Nina para encerrar essa breve lista? Por isso:

Quero entrar nesse covil das pessoas elegantes com suas ideias velhas, presunçosas, e enlouquecê-las.

Nina Simone travou várias lutas ao longo da vida. Não as traduziu na força barulhenta do punk, mas na ferocidade de cada gesto, de cada emoção contida em suas palavras. A luta nunca foi fácil para ninguém. Nunca é.

Era no palco que Nina encontrava aquela liberdade, à qual me referi no começo desse post. A liberdade de se livrar de tantas amarras, mesmo que por um curto espaço de tempo. A essa altura, eu sei que o tom dessa parte do texto está diferente das anteriores, que foram mais leves. É que me dei conta de forma ainda mais clara, agora e mais uma vez, de como é importante o papel dessas mulheres é tão relevante para nós.

Miss Simone veio ainda antes de Patti e das garotas do The Runaways. Faria mais sentido, cronologicamente, ter começado com ela, mas acredito ser mais impactante – e, portanto, necessário – a ter deixado para o final.

Ela gravou seu primeiro álbum de estúdio em 1958 e basicamente não parou até 1993. A canção Feeling Good, regravada por Nina para o álbum I Put a Spell on You (1965) é uma de minhas favoritas da vida. Como já fiz um post focado nela antes, escolhi outra, do mesmo álbum:

Ser “recatada” e “do lar” (além de bela, vejam só), costumava definição daquilo que era ideal à uma mulher. Por mais que a publicação que nos trouxe até esse post e seja recente, prefiro enfatizar tudo isso como algo do passado porque é onde deveria estar. Por favor, vamos fazer com que seja assim!

26 respostas

  1. Great post. I’ve never followed Patti Smith closely, I like the runaways and Joan Jett, but I’m not really familiar with Nina Simone. The role women play and the influences are good topics and stereotyping of all types can be so strong in the entertainment world.

    1. Thanks, Tim.
      About Patti, if you’re interested Easter and Dream Of Life are the albums I’m listening more currently. And about Nina, the documentary is really interesting and it’s an Netflix original.

      1. Damn, Lari! Another one just died. I never really followed Prince, but I like some of his music. He was my age! Wow. 2016 is becoming a killer year, literally.

  2. Não sabia desse texto, mas vindo de onde veio, não chega a ser uma surpresa.
    O pouco que conheço da Patti Smith vem dos covers que o U2 fez, como “Dancing Barefoot” e “Gloria”. Inclusive há algum tempo perguntaram pra cada membro da banda qual show eles gostariam de assistir se pudessem voltar no tempo. A resposta de Bono: “Patti Smith no CBGB”.

    1. Patti tem umas músicas muito boas! Os álbuns Easter e Dream Of Life são os que tenho ouvido ultimamente. Gosto é completamente subjetivo, mas fica a dica, caso você queira ouvir e conhecer mais.
      Não sabia dessa do U2/Bono. Tenho pouca ligação com eles, mas é do tipo de informação que me interessa.
      Tenho um caderno em que anoto alguns fatos, ligando artistas que me agradam e coisas afins.

      1. Pra mim é ótimo ter essas referências. Como geralmente são poucas as cantoras que eu ouço, qualquer menção de quem curte já levo em conta.
        O Bono em particular é louco pela Patti Smith. Aliás, quando o U2 chamou o Eagles of Death Metal pra encerrar o show em Paris, eles tocaram justamente “People Have the Power”.
        A declaração do Bono você pode conferir nesse vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=t6x9LHKiSg0

  3. Lari, esse post foi inspirador. Sério!
    Nina Simone foi uma mulher fantástica, não tem palavra melhor para ela. Uma mulher negra, lutando por seus direitos através da música? Tem como ser mais admirável?
    E The Runaways foram uma inspiração na minha adolescência – continuam sendo. Me mostraram que mulher não tem que ser certinha e arrumadinha, podemos ser loucas, rockeiras, ter uma banda e rodar o mundo com azamigas fazendo show e o que mais der na tela 😉
    Orgulho, apenas!
    A Veja, mais uma vez, pisou na bola ao repescar padrões de 60 anos atrás, logo agora que estamos promovendo a reflexão do papel da mulher e seus direitos na sociedade. Uma pena, realmente! =/
    Mas estou esperando pelo melhor :DD
    Adorei o post, parabéns <3
    Bjooo :***

    1. Muito obrigada, Carol.
      A matéria é duvidosa. No sentido de deixar dúvidas sobre sua real intenção, a meu ver. De qualquer forma, acredito ser desnecessária, ao menos da forma como foi feita.
      O bom é que o fato não passou batido. Obviamente, já há polêmica dentro da polêmica, mas acho bom que pessoas – mulheres e homens – tenham dado suas “respostas” à publicação.
      Eu não costumo entrar nessas questões até por saber que estamos pisando em ovos demais atualmente, mas achei válido lembrar que mulheres, assim como todos os outros seres, nasceram para ser livres e podem ser geniais quando o fazem 🙂
      Um beijo e obrigada pelo comentário!

  4. Essa reportagem… não sei o que foi aquilo, se um perfil jornalístico escrito em 1930 reciclado e adaptado pra Marcela Temer ou uma sátira bastante ofensiva disfarçada de elogio. De qualquer forma, reflete bem o caminho que o país tá trilhando.
    Todas essas artistas são fantásticas. Quero muito ler os livros da Patti Smith – os discos, já devo ter ouvido a maioria, mais de uma vez, ela é provavelmente a pessoa que eu mais gosto nessa linha punk. Queria ler em inglês, porque imagino que linguagem seja foco, mas não dá pra comprar livro importado agora. Muito possível que compre os dois dela, traduzidos, na minha próxima compra de livros.
    Numa linha mais “raivosa”, tem a Lýdia Lunch (e a primeira banda dela, Teenage Jesus & The Jerks) e todo o movimento Riot Grrrl (Bikini Kill, Pussy Riot etc.), se você tiver no clima pra uma coisa mais “feita em casa”.
    https://deliriumscribens.wordpress.com/

    1. Pois é. Eu também acho que a real intenção está escondida e a publicação vai viver de “há controvérsias”…
      Fiquei feliz de você ter aparecido como alguém que já conhece a Patti. A maioria dos outros leitores tem uma relação menos “profunda” com ela, por assim dizer. Vou tentar reciclar a resenha que fiz sobre o livro (faz alguns anos) e, se ficar boa, posto aqui.
      Vou tirar um tempo para conhecer Lydia melhor. Já Riot Grrrl não é novidade para mim, mas talvez precise dar outra chance!
      ps: quem me dera fosse mais fácil e barato comprar livros importados…

      1. Acho que conheci a Patti Smith graças à proximidade dela com a geração beat (tem umas fotos dela por aí com o Allen Ginsberg e William Burroughs, dois caras que eu admiro demais). Aí um dia, ouvindo o Ginsberg recitar uma poesia do William Blake, vi esse vídeo nos relacionados: https://www.youtube.com/watch?v=QSLjYScyaBo
        Cheguei a arrepiar, ela é um imã. No mesmo dia, peguei a discografia e a desbravei. O jeito que ela começa a recitar poesia no meio das músicas, até as que não são dela, é demais. Tanto que acho que gosto mais da versão dela de Smells Like Teen Spirit que dá original.
        De fato, o som Riot Grrrl não é pra todo dia. Preciso estar num humor específico pra ouvir. Lydia Lunch, mãe delas, é a mesma coisa.
        Muitas saudades de 2011, quando os importados saíam mais baratos que os originais.

        1. Tá ai. Burroughs eu realmente gostaria de ler em inglês.
          Patti tem vários talentos, dá pra chegar a ela por diferentes canais, por assim dizer. Eu cheguei mais diretamente pelo Mapplethorpe mesmo. Antes, já sabia quem ela era, mas não tinha tanto interesse.
          Sobre a versão de Teen Spirt, acho difícil concordar com você, mas pode ser pelo fato de Nirvana ser “sagrado” pra mim :p
          Ainda não consegui o humor certo para Riot, mas vai… Uma hora vai!

  5. Concordo demaaais com o que tu disse no início do post, tanto é que meu último post fala exatamente (com outras palavras) o que você afirmou. Nós mulheres temos o direito de sermos o q somos e queremos! Bela, nem tão bela, recatada, desbocada, discreta, indiscreta, do lar, do trabalho, do mundo… enfim… Nem sei se há necessidade de opinar sobre ainda rs
    Mas sobre o post achei bacana esta pegada e mais uma vez pude conhecer gente que não conhecia, entro no seu blog e me sinto uma analfabeta do mundo da música hahaha faz parte! Bjsssss 😘

  6. Como só vi esse post agora?!!!!
    Que relação maravilhosa você fez de um pro outro, né Lari?
    Saber mais das histórias e lutas dessas mulheres MARAVILHOSAS, só nos faz acreditar ainda mais em nós mesmas!
    Amei!♥

    1. O importante é que você viu \o/
      E fico feliz que tenha gostado, Vera. Desde a polêmica, algumas pessoas criticam, achando que o protesto é contra ser “bela, recatada e do lar”. Sei que você sabe que não é isso e entende bem como essas mulheres são inspiração para nossa liberdade e confiança 🙂
      Beijos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Quer indicação de música ou conversar sobre o assunto, ou descobrir mais de quem faz o Yellow? Me encontra aí:

Contato

Se você prefere emails a redes sociais, me manda um “oi” no [email protected] !

Álbum da vez!

O seu som no Yellow

Sobre TAGs

O mundo dos blogs é cheio de tags e é bem legal ser indicado a participar de alguma. Desde já, agradeço a todos vocês! Destaco apenas que só responderei tags aqui caso elas se encaixem aos assuntos do Yellow.
Agradeço pela compreensão!

Gostou do que eu escrevo e tá se perguntando se seu faço isso profissionalmente? Faço SIM! Entra ai no 'DeixaQue Eu Escrevo' para saber mais :)

HEY!