Opinião: Viva a música!

Estamos saindo da linha com o post de hoje porque, com ele, não estou apresentando ou compartilhando músicas, mas propondo uma reflexão a partir, claro, da minha opinião. Então, abram o coração e leiam com carinho. Considerem e comentem!

Na semana passada e nesta, compartilhei na página do Yellow no Facebook (deixe seu like e acompanhe) duas matérias. A primeira, traz breves relatos, avaliações dos shows dos Rolling Stones na América Latina, feitos pelo jornalista Dean Goodman – aquele que já foi a mais de 230 apresentações da banda. Destaquei:

Buenos Aires – “O clima de expectativa é febril. Os fãs argentinos dos Stones são os mais malucos, e todo fã dos Stones sonha em fazer uma romaria até aqui para fazer parte dessa experiência sobrenatural”.
Rio de Janeiro – “É o show dos Rolling Stones ou uma convenção de smartphones? […] Definitivamente, não estamos mais na Argentina”.

Alguns dias depois, já tendo feito outras apresentações no Brasil, Mick Jagger concedeu (à Luciana Gimenez) a única entrevista em sua passagem pelo país. O meu destaque?

“Sobre os paulistas, [Jagger] fez uma espécie de crítica, ligeiramente incomodado: ‘Parece que todo mundo assiste ao show pelo celular! O público aqui é um pouco diferente'”.

Tudo isso me incomoda por algumas razões. Uma delas, é a imagem que os outros estão criando de nós. Ah, fala sério!” – pode ter pensado o leitor. Mas, vejam bem: entendo perfeitamente que o que move uma banda (ao menos, a maioria delas) é o dinheiro. Se o país ou cidades lotam o estádio, eles voltarão porque é lucrativo. Mas, eu gosto de pensar para além disso.

Como fã, quero que meus ídolos criem uma boa imagem, se não for possível do país inteiro, pelo menos daquela noite que dividiu com vários brasileiros que fizeram questão de prestigiar a banda. Não sou a maior fã dos Stones e esse post não é apenas sobre eles – até porque, eles nem devem voltar -, mas me causaria desconforto pensar, por exemplo, que o Foo Fighters não quer voltar ao Brasil ou não curtiu tanto fazer shows aqui por causa de nós.

“Ah, cara. Muito sentimental isso!”. É, pode ser. Então, falemos de outra razão. A nossa crescente inabilidade de viver o momento. Acredito que vocês já leram sobre isso (sobre tudo isso) antes. De toda contradição em termos em mãos tecnologias que nos permitam viver acontecimentos de qualquer lugar do mundo, em tempo real. E de estarmos, sem perceber, deixando passar a oportunidade de realmente viver esses momentos, sobretudo os que acontecem fisicamente diante dos nossos olhos (e ouvidos).

“Poxa, que texto clichê”. Me pegaram. É clichê mesmo, mas não acho inválido falar disso aqui. Num cenário bastante favorável, considero até um dever meu enquanto autora de um blog que fala sobre música. Vivam o momento, vivam a música! 

Tenho total entendimento do quão dominante pode ser o impulso de tirar o celular do bolso e registrar cada minuto da apresentação de nossas bandas favoritas. Eu mesma já fiz vários registros em shows. O resultado: a maioria deles é ruim. São inválidos? Claro que não! Minha sugestão é: façam uma foto, um vídeo ou dois, mas #ficadica mais uma vez: larguem o celular e curtam o momento, curtam o show! Não escolham correr o risco de estar olhando para tela, tentando postar algo e perder aquele movimento, aquele gesto, aquele acontecimento que você sempre sonhou em ver ao vivo por subestimar o poder desse ao vivo. Lembranças são eternas, mas a vida acontece no agora.

Música é vida. Viva a vida. Viva a música!

Esse é um post parcial em que exponho a minha visão, baseada na minha percepção.
O espaço dos comentários está ai para vocês me apresentarem suas ideias,
inclusive se discordarem de mim!
Reflexão gera reflexão 🙂

20 respostas

  1. People and the smart phones. They’ve become inseparable extensions for so many people. When we lived in Madrid, we were at one of Loquillo y los Trogloditas’ concerts, and during a sad song some people held up lit cigarette lighters, but most people held up their cell phones with the screen lights on and slowly waved them back and forth to the music.

    1. Well, I understand that time changes society. When at Pearl Jam’s show here, they asked us to use our cell lights during a song. Must of us don’t have cigarette lighters, I suppose. But, I’m really tired of the excessive phone use, for photos and videos during this moments that should be truly lived!

      1. I’m in total agreement with you. One of the reasons I don’t go to live shows or movie theaters anymore. The last movie theater I was in, the young people who sat behind us talked during the entire movie. Why pay to sit and talk in a movie theater? That’s what coffee bars and parks are for. And why should I pay to listen to people talking during the movie? It’s the same thing with concerts, rowdy people and cell phones — I get enough annoyances in my life for free, why pay to be annoyed? IT’s too bad because a lot of inconsiderate people ruin in for the serious concert and movie goers.

  2. Muito legal essa reflexão Lari. De certa forma chega a ser triste essa constatação, vista por pessoas de fora da nossa realidade. E tem se aplicado a muitas outras situações. Às vezes, acabamos por considerar normal quando em uma roda de amigos de cinco pessoas, quatro estão mexendo no celular, em vez de aproveitar para se divertirem, conversarem, olhar um nos olhos dos outros. Não precisa ir muito longe, só observar os grupinhos nos bares etc… Não vou ser hipócrita e dizer que nunca fiz isso, porque já fiz. Hoje não tanto, pois tenho me policiado bastante para realmente viver o momento, seja ao lado das pessoas que são importantes para mim, ou simplesmente alimentar a minha memória em vez da do meu aparelho.
    Beijo, parabéns pelo texto 😀

    1. Pois é, Dani! Eu trouxe uma reflexão sabendo que eu também já fiz isso que, hoje, não considero tão legal. Esses outros exemplos que você trouxe ilustram bem o problema também. Minha torcida é que a gente encontre um equilíbrio. Estou tentando fazer minha parte, me policiando e fico feliz de saber que mais gente tem feito o mesmo!
      Obrigada pelo comentário 🙂

  3. Já faz um tempo que show de música aqui no RJ é sobre tudo, menos música. Mas o pior é que as coisas há algumas décadas não eram asssim (é só perguntar pros mais velhos, ou até mesmo ver as filmagens de shows da era pré-smartphones). O público brasileiro era talvez tão apaixonado e presente quanto nossos hermanos. Acredito que a mudança, em parte, tem a ver com o aumento desproporcional no valor dos ingressos (aliás, essa é basicamente a mesma coisa que aconteceu no futebol).
    Por sinal, essa discussão toda me lembrou um texto que viralizou recentemente, do blogueiro Mark Manson, sobre o povo brasileiro. Uma das questões que ele mais enfatiza é a nossa vaidade acima da média. A leitura do texto machuca, mas é difícil não concordar com ele. Caso tenha interesse: http://markmanson.net/brazil_pt

    1. Vou ler o texto sim! Depois comento sobre ele com você…
      Agora, dessa vez eu nem entrei na questão dos preços dos ingressos. Entendo que essa é uma questão mais difícil para que a gente mude. Digo tendo em vista que essa minha sugestão de viver o momento é uma decisão pessoal e, portanto, mais fácil de ser mudada. Mas, gostei de você ter mencionado essa questão. Os ingressos aqui tem preços absurdos!

      1. Acredito que o preço dos ingressos é um dos fatores, mas não o único, que ajudou a mudar a nossa visão sobre o que é ir a um show. Mas talvez o principal mesmo seja o uso excessivo das redes sociais.

        1. Henri, finalmente li o texto!
          Consigo visualizar dois pensamentos possíveis aos brasileiros, quando começam ler esse texto: já sair concordando com tudo ou, como eu, já tentar pensar em argumentos para negar ou justificar o que o gringo está dizendo. Isso porque, como boa brasileira, acho chato que falem “mal” daquilo que é meu, considero isso normal à nossa cultura, tendo em vista outras opiniões gringas que já li. Não demorou para que eu abaixasse a cabeça e começasse a aceitar tudo o que ele diz. E é ai que encontro um dilema que pode ser comum tanto a quem aceitou as críticas de cara quanto para quem tentou fugir, como eu: o que fazer? O que ele disse faz sentido e mesmo quem tenta fugir, tenta fugir já sabendo disso. Ele expõe um erro que, para muita gente, não é novidade. E, ainda assim, a gente não consegue mudar… A gente não sabe “peitar” os outros e ir contra a “camaradagem”. No exemplo do retrovisor, eu teria medo de ter que assumir o reparo se não conseguisse convencer meu amigo. E ainda, perder a amizade! Como somos difíceis…

          1. muito difícil mesmo. a verdade é que eu queria ter concordado menos com o texto, porque em vários momentos, como esse que você menciona, a carapuça serviu.
            o que o Mark Manson fala tem muito a ver com a ideia do “homem cordial” do Sergio Buarque de Holanda (sim, o pai do Chico). basicamente ele falava que no Brasil a esfera privada estava sempre entranhada na esfera publica, e mesmo nas relações em sociedade, que deveriam ser as mais impessoais, se buscava favorecer os mais chegados (como naquele ditado: “aos amigos tudo, aos inimigos, a lei”).
            Sergio Buarque falou sobre isso em 1936 (no clássico Raízes do Brasil), e se bem me lembro pra ele não havia exatamente uma solução que não fosse o entendimento gradual de que, em sociedade, as coisas não funcionam como no engenho. como dá pra ver, parece que pouca coisa mudou desde então.
            curiosamente, a sua pergunta (“o que fazer?”) me fez lembrar de uma música do André Sampaio (ex-Ponto de Equilíbrio). não deve ser muito a sua praia, mas enfim:
            https://www.youtube.com/watch?v=0nuNaf6S5xI

          2. Vou começar pelo fim e dizer que já ouvi demais Ponto de Equilíbrio, haha! Mas, faz um tempo bom que minha praia mudou e nada ainda tinha me levado à música do André. Ouvi aqui, e estou mesmo precisando saber o que fazer com tanta gente apertando minha mente! haha
            Prosseguindo, acho que Sergio Buarque está certo. O problema é que somos imediatistas, ainda mais agora em tempos de app e internet na ponta dos dedos. Até eu (e nisso incluo os outros) entender que faço parte da mudança gradual, já deixei passar. Entende?
            Por fim, o ditado que você citou cai como uma luva para todos os lados dessa nossa nação. Triste realidade…

          3. Pois é, a internet acaba potencializando ainda mais as nossas tendências. Mas isso pode ser bom também, já que pode ajudar a gente se enxergar melhor e se manter mais presente. É um desafio diário pra mim também

  4. Lari, concordo tanto com você! Com teu ponto de vista!
    Acho que nossa geração acabou priorizando os registros, o ‘mostrar pros outros’, do que o ‘enjoy’.
    Sinto falta da espontaneidade (acho que por isso eu curta TANTO o Snapchat) que meus pais viviam quando eu era mais nova.
    Falta a falta de filtro, sabe?! Falta a policia da internet estar mais relaxa, mais tranquila e mais pronta pra viver o momento.

    1. Olha, você me fez pensar em uma vantagem do Snap que eu não tinha dado muito valor. Legal isso!
      Vou ficar na torcida para que, em meio à tanto app, ele ajude a gente a buscar uma vida mais espontânea então. Quem sabe, né?!
      😀

  5. Não só em shows grandes, mas em pequenos também me incomoda muito isso, talvez até mais que os grandes por sentir realmente que as pessoas não aproveitam aquele momento pra incentivar a banda. Sempre que chego no show de qualquer banda e vejo cenas desse tipo me sinto obrigada a tomar uma atitude, então agito perto do palco até que algo aconteça, abraço desconhecidos, encho o saco pra pessoa pular e cantar junto comigo, se eu percebo que tá com vergonha de se soltar ai que eu atormento mais a vida mesmo. Já me olharam torto, já arrumei treta por isso, mas no final sempre crio um vinculo com quase todo mundo, faço amizade e ganho muitos abraços antes de ir embora, faço amigos por um dia que talvez não tenham nenhuma outra afinidade comigo, mas isso vale mais a pena que qualquer registro no meu celular. O pior disso tudo é saber que na maioria das vezes tem sempre um profissional filmando ou um fotografo registrando o momento, eles estão lá justamente pra que você possa se divertir enquanto eles trabalham. Então qual o sentido?

    1. Gostei das suas ideias para tentar ajudar as pessoas a se conectarem com o momento! É um esforço válido. Acho que nunca abracei desconhecidos em shows, mas sou bem acostumada a isso por causa da vida nos estádios de futebol, haha. Geralmente, não gera problemas.
      E sobre shows menores, realmente a situação é pior. Faz ainda menos sentido e atrapalha ainda mais. Acaba que muita gente vai ver a apresentação de uma banda local buscando status: divulgar a foto/video que fez da banda, mas acabam nem sabendo falar do som em si… :s

  6. Isso é bem verdade, eu compartilho da mesma opinião que você tem de querer que as bandas/cantores tenham uma “boa visão” de nós, fico muito feliz como fã quando eles têm algo de bom para falar sobre país ou sobre o público, sempre fico emocionada. Essa questão do celular é bem chatinha, as vezes até tenho a impressão de que muita gente faz isso só para poder bater no peito e dizer “eu fui” e ficar “se achando”, principalmente quando se trata de Rolling Stones que é uma banda tão famosa.. Ótimo texto, beijos :**

    1. Sim! Esse negócio do “eu fui” é bem compreensível. Mas, acho que uma, duas fotos bastam. Sei lá… Pode ser que, no futuro, eu vire a louca do celular de novo, mas espero que não. Me contive com FF, então acho que ninguém mais vai me fazer passar um show com o celular na mão, haha.
      ps: fiquei feliz que tenha aparecido alguém preocupada com a “boa visão” que os artistas possam ter. Acho que a maioria acha isso uma coisa boba, mas eu acho importante de verdade :p

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